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sábado, 30 de setembro de 2017

Nem tudo o que você quer é o que você merece

Pois é, estou de volta.

Na verdade eu tinha deixado esse blog inativo para me dedicar ao outro, no qual me dedicaria a textos mais poéticos, longe da questão de saúde/adoecimento mental. Talvez porque, ao adquirir estabilidade e segurança, depois de tantos meses sem medicação, eu tive a ilusão de que eu automaticamente teria deixado de ser doente. Ledo engano.

O esforço em me manter estável prosseguiu, mas com certo alívio por não me sentir mais embotada pela medicação. Vejam bem: a medicação é importante, me ajudou muito em momentos mais difíceis de crise, mas o sonho de toda pessoa com transtorno mental é ver-se livre dessas amarras, e talvez eu tenha perdido a mão nisso. A diferença é que agora percebi que mentir pra mim mesma e dizer que não sou doente só me faz adoecer mais. Tapar o sol com a peneira é apenas criar um novo caminho para chegar novamente a isso e se tem coisa que não quero é voltar a esse lugar em que tudo se resume a encontrar a dosagem certa pra me encaixar.

Então vou usar minha criatividade pra tentar construir um destino diferente.

O que me trouxe a essa conclusão foi a observação de minhas relações - não só por mim, mas também por perceber que minhas relações mais significativas são também com pessoas com algum transtorno. Pessoas que, como eu, também são vez ou outra dominadas por impulsos auto-sabotadores, ainda que de forma diferente de mim. Pessoas que também buscam a própria felicidade, mas metem os pés pelas mãos o tempo todo desejando mais que tudo acertar, ainda que tenham que reconhecer que erram também. E às vezes feio. Em resumo: perceber o quanto é difícil lidar com pessoas assim me fez voltar a me identificar neste "seleto" grupo - que, hoje percebo também, nem é tão "seleto" assim.

Muitas vezes, me vendo como doente, eu só percebia o quanto os outros me magoavam - mas eu não magoo também? E o que me faz reagir assim, afinal? Minha ilusória eutimia me fez perceber que a Vida é via de mão-dupla, e se os padrões de comportamento continuam a se repetir, é porque a "cura", na verdade, nunca existiu. Eu só me coloquei como alguém "de fora", quando também estou "dentro".

O fato é que agora que eu achava que já tirava de letra o Transtorno Bipolar, a Vida me pôs de frente a um outro transtorno: o Transtorno de Personalidade Limítrofe, ou Borderline. Eu já o tinha ouvido falar e até já tinha cogitado também ser portadora deste transtorno, mas tudo indica que não. No entanto, este parece estar presente no DNA da família, assim como tantas outras doenças psiquiátricas, e agora me pego estudando profundamente o assunto. Principalmente pra descobrir como uma bipolar como eu pode sobreviver a uma relação com uma pessoa borderline, já tendo que fazer um esforço enorme pra sobreviver apenas à bipolaridade própria.

Fácil é quando a gente pode simplesmente se afastar, "cada um no seu quadrado", gritar um "FODA-SE!!" bem alto e seguir a vida. Mas e quando a Vida te amarra a vínculos indestrutíveis com essas pessoas, ou quando você é responsável por alguma delas? Só me resta lembrar quem sou e de toda a minha trajetória até aqui: não foi fácil aprender a lidar com o TB, mas hoje já até dou palestras sobre o assunto. Ainda não sei tanto sobre a esquizofrenia, mas já aprendi a lidar no dia-a-dia. Assim como agora ainda não sei nada (ou quase nada) sobre o T. Borderline, mas to fazendo o meu melhor pra aprender - porque quero que essas pessoas que amo consigam também alcançar a paz de espírito que um dia eu conquistei (e que ainda luto pra manter aqui comigo).

To começando com o básico: conversando com essas pessoas a quem sou vinculada, tentando observar de forma racional o que sentem e o que as motiva. Tentando entender a diferença entre um Transtorno Afetivo e um Transtorno de Personalidade (logo eu, que já nasci com uma personalidade tão marcada, como já diziam aqueles que me conheceram quando criança/adolescente). Conversando com outras pessoas que também se declaram borders pra entender de certa distância afetiva. Lendo sites, depoimentos e artigos de profissionais da saúde mental (atualmente estou lendo "Corações Descontrolados", da psiquiatra Ana Beatriz Barbosa). Muita coisa está, finalmente, fazendo sentido, mas sei que a jornada está apenas começando...

"Amar não é ter que ter sempre certeza...", já cantava o Jota Quest no final dos anos 1990. Talvez amar seja apenas a busca desta certeza, mesmo em meio a uma escuridão desorientadora.

Ainda na busca.
Paz.
Ia'Orana!